As empresas
que desejam alcançar visibilidade maior no mercado e contar com a simpatia do
mercado consumidor. Para isso, como vimos, os empresários têm investido em
ações de Responsabilidade Social para garantir que suas marcas, produtos e
serviços sejam reconhecidos e aceitos pelo mercado consumidor como social e
ecologicamente responsáveis. No final de outubro de 2013, na cidade de São
Carlos (SP), manifestantes protestaram contra um laboratório (Instituto Royal)
que utilizava cães da raça beagle em testes de laboratório, denunciando a
crueldade praticada contra os animais que serviam como cobaias em experimentos
para a produção de cosméticos. O site da Revista Veja publicou, no dia 18 de
outubro de 2013, além de uma reportagem falando sobre o assunto, uma lista de
algumas marcas de cosméticos, entre elas de empresas famosas e lideres nesse
tipo de mercado, que fazem testes com animais e outra lista com as empresas que
não fazem.
Com a
divulgação dos nomes das empresas que fazem uso de testes com animais, que
geralmente são cruéis, o consumidor pode repensar a ética dessas empresas e o
seu compromisso não somente com cuidado com os animais, mas com o próprio ser
humano e toda a natureza. Ao repensar essa ética, esse comportamento, o
consumidor consciente – tipo de consumidor que aumenta a cada dia mais – pode
optar pela marca concorrente que respeita o ambiente e as pessoas. Estamos
falando de testes com animais, mas podemos falar de trabalho escravo, trabalho
infantil, assédio moral no ambiente de trabalho, depredação do meio ambiente,
poluição do ar, do solo, dos rios e dos oceanos. Quanto menos comprometidas com
o bem-estar das pessoas e do planeta, mais negativa será a imagem das empresas
no mercado, menor o seu lucro e menores as suas possibilidades de crescimento.
Investir em Responsabilidade Social tornou-se uma questão de sobrevivência, de
estabelecimento em um mercado tão competitivo.
De olho no
mercado consumidor e com uma consciência cada vez mais apurada pelas demandas
socioambientais, as empresas têm investido na aplicação de normais
internacionais que garantem a sua lisura diante da sociedade. A norma Social AccountAbility (AS 8000) é uma
norma que “possibilita às organizações os meios de assegurar aos seus clientes
de que seus produtos são produzidos sob condições de trabalho adequada”
(KARKOTLI, ARAGÃO, 2008, p. 102). A AS 8000 possui indicadores de
Responsabilidade Social que permite aos avaliadores observar de determinada
empresa está operando dentro das normas e se de fato merece o certificado.
Segundo os autores citados, “Os indicadores de responsabilidade social são
instrumentos que a organização pode-se utilizar para direcionar as suas
estratégias, também avaliar a eficácia das metas e iniciativas planejadas para
a parceria e transformação do seu entorno”; através desses indicadores será
possível “indicar necessidades e apontar deficiências das iniciativas de
responsabilidade social” (p. 101).
A AS 8000
exige e auxilia as empresas na prática de uma administração ética e socialmente
responsável, onde as empresas passam a cobrar essa postura também dos seus
fornecedores. Para que isto seja possível, empresários e colaboradores precisam
respeitar os princípios de documentos internacionais, como: Declaração Universal dos Direitos Humanos,
Convenção das Nações Unidas dos Direitos da Criança, Organização Internacional
do Trabalho, além de, no caso do Brasil, cumprimento às leis nacionais,
como a Constituição, a CLT e o Estatuto da Criança e do Adolescente. A AS 8000
possui algumas definições e critérios de avaliação para a atuação das empresas.
Essas definições e critérios norteiam a forma como os empresários devem agir na
sociedade, os cuidados que devem tomar em determinadas circunstâncias para
demonstrar sua responsabilidade social. No capítulo III, “Definições”, a AS
8000 traz a definição de empresa, fornecedor/subcontratado, subfornecedor, ação
de preparação, ação corretiva, parte interessada, criança, trabalhador jovem,
trabalho infantil, trabalho forçado, reparação de crianças, trabalhador em
domicílio.
Em seu capítulo IV, a AS 8000 apresenta
os requisitos de responsabilidade social para cada item desses. Por exemplo,
com relação ao trabalho forçado, a AS 8000 estabelece o seguinte critério (2.1):
“a empresa não deve se envolver com ou apoiar a utilização de trabalho forçado,
nem se deve solicitar dos funcionários fazer ‘depósitos’ ou deixar documentos
de identidade quando iniciarem o trabalho com a empresa”, uma situação
explorada por empresas que se utilizam de trabalho escravo. Sobre o trabalho
infantil, a norma estabelece (1.1): “A empresa não deve se envolver com ou
apoiar a utilização de trabalho infantil, conforme definido acima”. Além disso,
as normas listam a saúde e segurança no trabalho, liberdade de associação e
direito à negociação coletiva, discriminação, práticas disciplinares, horário
de trabalho, remuneração e sistemas de gestão. Ao seguir essas normas, os
empresários garantem que obedecem e respeitam às normas internacionais e de
seus países no respeito ao trabalhador, ao ser humano. Uma empresa socialmente
responsável passa a ser, primeiramente, aquela que mantém a sua casa limpa e
arrumada.
Além da AS 8000, a norma AccountAbility 1000 (AA 1000) também é
outra ferramenta a ser utilizada pelas empresas que pretendem ser socialmente
responsáveis. Esse padrão desenvolvido por uma organização não-governamental,
sediada em Londres, Reino Unido, tem como missão “promover e dar suporte às
organizações nas atividades de implementação de gestão ética e socialmente
responsáveis”, estimulando a “gestão baseada em princípios de qualidade e
ética, que garantem aos stakeholders
confiabilidade e transparência às demonstrações e relatórios produzidos e
divulgados pela organização”, tendo por base “a comunicação e o
interrelacionamento com as partes interessadas – stakeholders”. (KARKOTLI, ARAGÃO, 2008, p. 114 e
115). Vê-se que a qualidade que as empresas buscam está muito além do valor
intrínseco dos seus produtos, mas demonstra o cuidado com o seu valor
extrínseco, aquilo que ele pode representar para o consumidor. Um produto que é
fruto de trabalho escravo, por mais necessário que seja e por maior que seja a
sua qualidade, perde valor no mercado devido à forma injusta como foi
produzido.
Outra
ferramenta relevante às organizações é o pacto de responsabilidade Global Compact, que originou-se através
da iniciativa do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annam, em janeiro de
1999. O seu objetivo é promover o desenvolvimento sustentável e a boa cidadania
corporativa, baseado num conjunto de princípios e valores universalmente
aceitos, formado por uma rede de empresas e outros stakeholders, com um fórum especializado e trocas de experiência.
De acordo com o site unglobalcompact.org, os benefícios da participação no
Pacto Global da ONU incluem:
·
adotar uma estratégia já
estabelecida e reconhecida globalmente para o desenvolvimento, implementação e
divulgação de políticas e práticas ambientais, sociais e administrativas;
·
compartilhar os melhores e mais
inovadores procedimentos, propondo soluções e estratégias práticas aos desafios
comuns;
·
promover soluções de
sustentabilidade em cooperação com os stakeholders, incluindo as diversas
agências da ONU, governo, sociedades civis, trabalhistas e outros interesses
não corporativos;
·
conectar as corporações e suas
subsidiárias, incluindo toda sua cadeia de valor, com as Redes Locais do Pacto
Global ao redor do mundo -muitas destas localizadas em mercados emergentes e em
desenvolvimento-;
·
ter acesso ao vasto campo de
conhecimento e experiência da ONU nas questões de desenvolvimento e
sustentabilidade;
·
utilizar as ferramentas de gestão
e recursos do Pacto Global, e ter a oportunidade de envolver-se em grupos de
trabalho especializados nas esferas administrativas, ambientais e sociais.
O Pacto Global
da ONU é regido por dez princípios, que abrangem as áreas de direitos humanos,
trabalho, meio ambiente e combate à corrupção, gozando de um consenso universal
de que baseia na Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho Declaração do Rio sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção.
Ainda de acordo com o site unglobalcompact.org,
“O Pacto Global pede às empresas para
aceitar, apoiar e aplicar, dentro da sua esfera de influência, um conjunto de
valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, padrões trabalhistas, meio
ambiente e combate à corrupção”. Esses valores são:
·
Direitos Humanos:
princípio 1: As empresas devem apoiar e respeitar a proteção dos direitos
humanos reconhecidos internacionalmente; princípio 2: certificar-se de que não
são cúmplices em abusos aos direitos humanos.
·
Trabalho: princípio 3: As
empresas devem defender a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do
direito à negociação coletiva; princípio 4: a eliminação de todas as formas de
trabalho forçado ou compulsório; princípio 5: a erradicação efetiva do trabalho
infantil; princípio 6: a eliminação da discriminação no emprego e ocupação.
·
Meio Ambiente:
princípio 7: as empresas devem apoiar uma abordagem preventiva sobre os
desafios ambientais; princípio 8: desenvolver iniciativas a fim de promover
maior responsabilidade ambiental; princípio 9: incentivar o desenvolvimento e a
difusão de tecnologias ambientalmente sustentáveis.
·
Combate à Corrupção:
princípio 10: as empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas,
inclusive extorsão e propina.
Ao adotar esses princípios, a empresa estará dando a sua
contribuição para o fomento de uma sociedade diferenciada, sem exploração do
trabalhador, sem desrespeito aos direitos humanos e com ações que promovam o
cuidado ao meio-ambiente, resultando em justiça e prosperidade para todos. Além
disso, essas empresas têm seus produtos e serviços valorizados no mercado
consumidor, além de colherem direta e indiretamente os frutos do bem-estar
socioambiental. Qualidade ambiental gera qualidade de vida; qualidade de vida
gera mão de obra qualificada, novos consumidores e a manutenção dos antigos.
Ainda outro indicador que podemos citar é o do Instituto Ethos
de Empresas e Responsabilidade Social, fundado em 1998, através de iniciativa
de um grupo de empresários. A qualidade das relações entre os seus diferentes
públicos – stakeholders – é o foco da
preocupação do Instituto Ethos, que auxilia as empresas a compreender e
incorporar no cotidiano da sua gestão o conceito de responsabilidade social (KARKOTLI,
ARAGÃO, 2008, p.117 e 118). Os indicadores do Instituto Ethos são apresentados
em forma de questionário de avaliação da empresa e permitem que as empresas
avaliem a sua performance em relação à prática socialmente responsáveis. Esse questionário
é dividido em diversos temas com seus respectivos indicadores (KARKOTLI,
ARAGÃO, 2008, p. 119 a 121):
Temas
|
Indicadores
|
Valores e transparência
|
Compromissos éticos, enraizamento
da cultura organizacional, diálogo com stakeholders, relações com a concorrência,
balanço social.
|
Público interno
|
Relações com sindicatos, gestão
participativa, participação nos resultados e bonificação, compromisso com o futuro
das crianças, valorização da diversidade, comportamento frente a demissões, compromisso,
desenvolvimento profissional e empregabilidade, cuidado com saúde, segurança e
condições de trabalho; preparação para aposentadoria.
|
Meio ambiente
|
Conhecimento sobre o impacto no
meio ambiente, minimização de entradas e saídas de materiais na empresa, responsabilidade
sobre o ciclo de vida dos produtos/serviço, comprometimento da empresa com a causa
ambiental.
|
Fornecedores
|
Critério de seleção de fornecedores,
trabalho infantil na cadeia produtiva, relações com os trabalhadores terceirizados,
apoio ao desenvolvimento de fornecedores.
|
Consumidores/clientes
|
Política de marketing e comunicação,
excelência no atendimento, conhecimento do danos potenciais de produtos e serviços.
|
Comunidade
|
Gerenciamento do impacto da empresa
junto à comunidade, relações com organizações atuantes na comunidade, mecanismos
de apoio a projetos sociais, estratégias de atuação na área social, mobilização
dos recursos para o investimento social, reconhecimento/apoio do trabalho voluntário
dos funcionários.
|
Governo e sociedade
|
Contribuições para campanhas políticas,
práticas anticorrupção e propina, liderança e influência social, participação
em projetos sociais governamentais.
|
Todos esses indicadores de qualidade da Responsabilidade Social
demonstram a abertura das empresas para o compromisso com a ética e os valores humanos
universais. No Mungo globalizado e informatizado atual, torna-se impossível a prática
de ações contrárias àquilo que a sociedade valoriza sem o conhecimento da grande
maioria da população global. A Internet e as mídias sociais permitem que um número
cada vez mais crescente de pessoas tenham informações sobre tudo, o tempo todo e
em tempo real. A democratização da informação produzida pela inclusão digital e
pelas redes sociais, serve como ferramenta de bussolo para as empresas se guiarem:
ou elas andam pelo caminho correto, praticando uma gestão ética e socialmente responsável,
ou o seu negócio pode ser abalado em poucos segundos e algumas clicadas. Assim,
um grande número de empresários tem assumido a postura correta de comprometer-se
socioambientalmente com a sociedade e fazer a sua parte para a construção de uma
sociedade mais justa e um planeta mais limpo.